
Como fazer a avaliação completa da Via Aérea
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Introdução
A avaliação da via aérea em emergências pediátricas é um dos pilares do protocolo PALS (Suporte Avançado de Vida Pediátrico), um sistema crítico que visa estabilizar e salvar vidas em situações de parada cardiorrespiratória e outras emergências. No entanto, a via aérea não é apenas uma questão de “aberta ou obstruída”. Ela envolve uma análise detalhada da permeabilidade das vias respiratórias, da qualidade da respiração e da eficiência da oxigenação.
O que é uma via aérea "patente"?
Uma via aérea é considerada patente quando não há obstrução e o ar pode passar livremente para os pulmões, permitindo a troca gasosa adequada. Em crianças, garantir que a via aérea seja patente e preservada é vital, pois pequenas obstruções podem rapidamente comprometer a ventilação e causar hipoxemia (falta de oxigênio) e hipercapnia (acúmulo de dióxido de carbono), levando a arritmias, acidente vascular cerebral ou até parada cardiorrespiratória.
O que é uma via aérea "preservada"?
A via aérea preservada é aquela em que, mesmo com dificuldades respiratórias, ainda é possível que o ar passe. Isso pode ocorrer quando há obstrução parcial das vias aéreas, o que exige intervenção rápida para evitar a deterioração do quadro clínico.
Componentes da Avaliação da Via Aérea
Para garantir que a via aérea esteja patente e preservada, a avaliação deve ser baseada em parâmetros objetivos e sinais clínicos:
1. Frequência Respiratória
A frequência respiratória (FR) é um indicador direto da eficácia da ventilação e do esforço respiratório. Alterações na frequência respiratória podem indicar desde uma obstrução leve até um comprometimento grave das vias aéreas.
Idade | Frequência Respiratória Normal |
---|---|
Recém-nascidos | 30–60 por minuto |
Lactentes (1–12 meses) | 25–55 por minuto |
Crianças (1–5 anos) | 20–40 por minuto |
Crianças maiores (6–12 anos) | 16–30 por minuto |
Adolescentes (acima de 12 anos) | 12–20 por minuto |
Dica PALS: Frequências muito altas (taquipneia) ou muito baixas (bradipneia) são indicativos de dificuldades respiratórias graves. Quando a FR está anormal, é necessário observar se está associada a uma respiração mais superficial ou profunda (hiperpneia), o que pode indicar insuficiência respiratória ou hipoxia.
2. Esforço Respiratório
A presença de esforço respiratório aumentado é um dos sinais mais importantes para diagnosticar a obstrução das vias aéreas e o comprometimento da ventilação.
- Uso de músculos acessórios: Os músculos do pescoço, do tórax e do abdômen (intercostais) começam a ser recrutados para ajudar na inspiração e expiração.
- Flaring nasal: Dilatação das narinas durante a inspiração, que ocorre quando o corpo tenta aumentar o fluxo de ar para compensar a obstrução.
- Retratação torácica: Indica que o esforço para expandir os pulmões é tão intenso que provoca o afundamento da pele entre as costelas ou acima da clavícula.
Importância clínica: Esses sinais indicam que a via aérea pode estar comprometida e que pode ser necessária uma intervenção como intubação ou o uso de dispositivos como a máscara laríngea ou a intubação orotraqueal.
3. Padrões de Respiração
Existem padrões respiratórios específicos que podem indicar diferentes tipos de obstrução ou disfunção respiratória:
- Estridor: Som agudo e inspiratório, que indica obstrução das vias aéreas superiores (laringe ou traqueia).
- Ronco: Som grave, sugerindo obstrução das vias aéreas inferiores (bronquíolos ou pulmões).
- Sibilos: Sons agudos durante a expiração, geralmente associados a broncoespasmo (asma, bronquite).
- Estertores: Sons borbulhantes ou crepitantes indicam acúmulo de secreções nos pulmões (pneumonia, edema pulmonar).
- Gemência: Som característico durante a expiração, frequentemente relacionado à insuficiência respiratória.
- Tosse: Indicativa de uma possível obstrução ou infecção.
4. Expansibilidade Torácica e Ausculta Pulmonar
A observação da expansibilidade torácica e da ausculta pulmonar é essencial para detectar sinais precoces de insuficiência respiratória. A expansibilidade simétrica indica boa ventilação. Quando há restrição ou diminuição da mobilidade torácica, pode haver sinais de pneumotórax, consolidação pulmonar ou atelectasia.
Durante a ausculta, a identificação de estertores ou sibilos pode indicar a necessidade de um tratamento imediato, como a administração de bronco dilatadores ou antibióticos.
Identificando Hipoxemia e Sinais de Comprometimento Respiratório Grave
A hipoxemia (saturação de oxigênio abaixo de 92%) é um dos primeiros sinais de comprometimento da via aérea. Em crianças, a diminuição da saturação de oxigênio pode ocorrer rapidamente devido ao menor volume pulmonar e à maior demanda metabólica.
Sinais de hipoxemia e distúrbios respiratórios incluem:
- Redução do nível de consciência: A hipoxemia pode levar a confusão, sonolência ou até coma. Isso pode ocorrer sem cianose visível, mas é um indicativo de que o cérebro está recebendo oxigênio insuficiente.
- Cianose: Coloração azulada dos lábios, face ou extremidades, é um sinal tardio de hipoxemia grave.
- Frequência respiratória inadequada: Tanto uma frequência alta (taquipneia) quanto uma frequência baixa (bradipneia) podem indicar uma diminuição do nível de oxigênio ou obstrução das vias aéreas.
- Esforço respiratório excessivo: O uso de músculos acessórios é um sinal de que o corpo está lutando para manter a ventilação. A retratação torácica e o flaring nasal são sinais visíveis de que o esforço respiratório está se tornando inadequado.
Finalizando
A avaliação eficaz da via aérea em crianças é uma das habilidades mais críticas para os profissionais de saúde em emergências pediátricas. Através da análise cuidadosa da frequência respiratória, esforço respiratório, ausculta pulmonar e nível de oxigenação, podemos prevenir a deterioração clínica e garantir a melhor resposta terapêutica possível.
Entender os sinais de obstrução parcial ou total das vias aéreas, e as anomalias respiratórias, é vital para implementar as manobras corretas de desobstrução, ventilação e oxigenação, seguindo o protocolo do PALS.
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